UMA VISÃO CRÍTICA
A produção poética brasileira
começou no século XVII com a poesia do padre José de Anchieta. O jesuíta
escreveu duas vertentes poéticas: a poesia didática, e a poesia que reflete uma
visão teocêntrica de mundo. Com característica da lírica medieval portuguesa e
a simplicidade de transmitir a fé. Os poemas mais representativos do barroco
brasileiro são de Gregório de Matos, onde o jogo de palavras resulta na fusão
do material e espiritual. O poeta abusa da metáfora, da antítese e do
trocadilho. Os “Sermões” do padre Antonio Vieira completam a fase
barroca o que se empenharam pela liberdade dos índios.
As “Liras” de Cláudio Manoel
da Costa iniciam o Arcadismo, expressam sentimentos comuns e universais,
interpretam a realidade de maneira objetiva. “Uruguai” de Basílio da
Gama narra as lutas entre índios de Sete Povos das Missões na região sul do
país. “Caramuru” de Santa Rita Durão trata do descobrimento da Bahia. “Marília
de Dirceu” de Tomás Antonio Gonzaga transforma o eu-lírico em pastor, com
confidências amorosas, descrições da amada; planos e sonhos de felicidade
conjugal.
“Suspiros poéticos e saudades” de Gonçalves de Magalhães iniciam o movimento
romântico. “Canção do tamoio” de Gonçalves Dias faz uma exortação, um
conselho que um velho índio dar a seu filho recém-nascido; “Canção do
exílio” registra a sensação de estar longe da terra natal; “I-Juca
pirama” expressa costumes e crenças das tribos indígenas brasileiras. “Idéias
Íntimas” de Álvares de Azevedo abusa de adjetivos, interjeições,
exclamações e reticências; “Lembranças de morrer” foi escrito um mês
antes da morte do autor, o texto manifesta o pessimismo típico da geração
Ultra-romântica. “Morte (hora de delírio)” de Junqueira Freire mostra-se
dividido entre os apelos da vida material e carnal, entre o amor a Deus e à
mulher; entre o amor platônico e o amor sensual, entre a vida e a morte.
“Cântico
do calvário” de Fagundes Varela é dedicado a seu filho, Emiliano, que
morreu aos três meses de idade. É recheado de metáforas e as figuras de
linguagens expressam emoções. “Segredos” de Casimiro de Abreu apresenta
forte musicalidade. “Meus oito anos” apresenta característica do
mal-do-século; o saudosismo revela a melancolia produzida pela saudade da
infância. “O navio negreiro” e “Vozes d’África” são as principais
realizações poéticas de Castro Alves. “O navio negreiro” denuncia o
sofrimento dos negros transportados da África para o Brasil, para trabalhar
como escravos. “Guesa errante” de Joaquim Sousândrade registra um
encontro amoroso entre o índio e seu primeiro amor.
O parnasiano “Sonho” de Olavo
Bilac contrapõe o presente “hoje”, no qual se leva uma vida “sem glória”,
“apagada” e “merencória”, ao passado histórico no qual supostamente a vida era
melhor; “Profissão de fé” alheia-se do mundo preocupando-se apenas com
sua tarefa de criar beleza através da palavra. Está centrado na comparação
lógica entre o trabalho do ourives e o trabalho do poeta. “O Vaso chinês”
de Alberto de Oliveira distancia-se dos temas relacionados à realidade dos
parnasianos que criavam a “arte pela arte”. “As pombas” de Raimundo
Correia estabelece comparação entre a cena descrita e a perda das ilusões dos
sonhos, compara o movimento das pombas aos sonhos da adolescência que igualmente
voam.
O poema simbolista finaliza um
período de formas definidas. “Violões que choram” de Cruz e Sousa é o
mais representativo do simbolismo brasileiro, o longo texto tece metáforas e
antíteses; “Cavador do Infinito” utiliza-se da filosofia para questionar
a razão e o fundamento da existência humana. “Ismália” de Alphonsus de
Guimaraens retrata o desejo contraditório de Ismália, construído sob
antítese, é interpretado nos seus últimos versos numa concepção cristã de
Universo. “Psicologia de um vencido” de Augusto dos Anjos deprecia o
eu-lírico e procura sensibilizar o leitor através do feio e do horroroso. “Versos
Íntimos” inova com um tom coloquial e cotidiano. Estabelece com um possível
interlocutor, advertindo-o da ingratidão e induzindo-o a não aceitar qualquer
gesto de solidariedade, aconselha-o a antecipar a agressividade. Expõe uma
concepção determinista de sociedade, em que vencem os mais fortes; daí a
necessidade de ser fera.
O poema modernista marca o fim da
formalidade, dos sonetos medidos e das rimas. “Ode ao burguês” de Mário
de Andrade faz referência ao traje do “Arlequim”, metaforiza a diversidade, o
imprevisto, oposição a previsibilidade do burguês. “Erro de português”
de Osvald de Andrade sintetiza a linguagem da carta escrita por Pero Vaz de
Caminha, utiliza-se da expressão formada a partir dos termos coloquiais. “Vou-me
embora pra Pasárgada” de Manoel Bandeira representa os anseios do autor de
se salvar da doença que contraiu na adolescência. “Ultimo poema” insere
dois temas centrais: a valorização da simplicidade e a consciência da morte com
o máximo de intensidade vital; “Letra para uma valsa romântica” o
eu-poético confessa seu sentimento pela musa Elisa e idealiza a mulher como se
estivesse num pedestal. “Reis magos” de Cassiano Ricardo traz à luz uma
visão metafórica da formação do povo brasileiro, a partir da identidade entre a
figura de Cristo e o novo país descoberto.
“Filiação” de Murilo Mendes o
eu-poético declara-se católico e aceita a concepção de mundo em que Deus é o
Criador. “Essa negra fulô” de Jorge de Lima apresenta característica
narrativa com gradações em dois momentos, que preparam para o clímax. O
eu-poético faz um jogo lingüístico com as formas dos pronomes; “Poema do
Cristão” aponta na religião a solução para uma realidade injusta,
conturbada e excessivamente materialista. “Inscrição na areia” de
Cecília Meireles trata do pouco valor que o poeta atribui ao seu próprio
sentimento, não se preocupa apenas com o significado da mensagem, mas,
sobretudo com a construção da mesma; “Feitiçaria” utiliza-se da
impessoalidade do verbo e a inexistência do sujeito como recurso lingüístico
para dar a idéia de um mundo parado, em que as pessoas poderiam ter vidas, mas
não têm. “No meio do caminho” de Carlos Drummond de Andrade é considerado
o poema mais representativo do modernismo brasileiro, provocou escândalo à
época, o verso “tinha uma pedra no meio do caminho” emprega o verbo ter
como impessoal, papel que não lhe é comum no padrão culto da língua, o que
seria, “havia uma pedra no meio do caminho”; “A hora do cangaço”
emprega a dualidade do eu-lírico para o envolver na eternidade das coisas que
em um determinado momento, deixam de parecer eternas; “José” toma
consciência do tenso momento histórico e produz a indagação filosófica sobre o
sentido da vida, e, indaga com José sem sobrenome, sem origem definida, que se
perdeu tudo.
“Confidência do itabirano” em tom afetuoso reinterpreta o
passado vivido na terra natal; “Amar” procura capturar a essência desse
sentimento, o texto revela antagonismos entre o definitivo e o passageiro, o
prazer e a dor. O “Soneto da felicidade” de Vinícius de Morais
desdobra-se em propostas de comportamentos, todas em função do seu amor e dar
explicações por que se dispõe a ser fiel, tem como característica o ritmo e a
sonoridade; “Soneto do amor total” constrói-se em duas facetas: o amor
espiritual e amor físico e não vê limites entre os dois amores, confessa amor
independente de alteração do mundo exterior; “Soneto da separação” o
eu-lírico vive um conflito enfatizado pela antítese.
“Morte e vida Severina” de João Cabral
de Melo Neto é um poema épico da vida do retirante nordestino. Os personagens
trocam paralelos com a paisagem da terra sofrida do sertão nordestino. A
trajetória do Severino que foge da seca, passa pelos latifúndios canavieiros e
acaba nos barracos miseráveis da cidade litorânea; “Lua nova” remete ao
tempo que o poeta transferiu-se, num mesmo prédio, de um apartamento de fundos
para outro cuja frente dava para a Baía de Guanabara. O fato em si seria
irrelevante para a poesia, não fossem as imagens que o poeta criou. “Pequena
crônica policial” de Mário Quintana é composta no gênero narrativo, mas
numa expressão poética peculiar ao seu estilo; “Poema de circunstâncias” é
estruturado em torno da personificação da figura dos olhos, o eu-lírico
confessa que, do lugar onde se acha ainda resta a possibilidade de observar as
coisas.
A produção poética brasileira
ultrapassa os quatrocentos anos. Desde a publicação da malfadada Prosopopéia
de Bento Teixeira em 1601, até os moderníssimos “Mãe”, de J. G. de Araújo
Jorge; “O Alto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, “Apelo” de Eno
Theodoro Wanke, que mereceu 160 versões para 95 idiomas e a “poesia completa”,
de Ledo Ivo. Salva-nos a sobriedade dos poemas ledivanos.
A história do Brasil é também contada através da arte,cada época tem a sua característica e a característica do seu povo.
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