sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

OS MELHORES POEMAS BRASILEIROS


UMA VISÃO CRÍTICA

by Manoel Gomes, Professor de Sociologia


A produção poética brasileira começou no século XVII com a poesia do padre José de Anchieta. O jesuíta escreveu duas vertentes poéticas: a poesia didática, e a poesia que reflete uma visão teocêntrica de mundo. Com característica da lírica medieval portuguesa e a simplicidade de transmitir a fé. Os poemas mais representativos do barroco brasileiro são de Gregório de Matos, onde o jogo de palavras resulta na fusão do material e espiritual. O poeta abusa da metáfora, da antítese e do trocadilho. Os “Sermões” do padre Antonio Vieira completam a fase barroca o que se empenharam pela liberdade dos índios.
As “Liras” de Cláudio Manoel da Costa iniciam o Arcadismo, expressam sentimentos comuns e universais, interpretam a realidade de maneira objetiva. “Uruguai” de Basílio da Gama narra as lutas entre índios de Sete Povos das Missões na região sul do país. “Caramuru” de Santa Rita Durão trata do descobrimento da Bahia. “Marília de Dirceu” de Tomás Antonio Gonzaga transforma o eu-lírico em pastor, com confidências amorosas, descrições da amada; planos e sonhos de felicidade conjugal.
Suspiros poéticos e saudades”  de Gonçalves de Magalhães iniciam o movimento romântico. “Canção do tamoio” de Gonçalves Dias faz uma exortação, um conselho que um velho índio dar a seu filho recém-nascido; “Canção do exílio” registra a sensação de estar longe da terra natal; “I-Juca pirama” expressa costumes e crenças das tribos indígenas brasileiras. “Idéias Íntimas” de Álvares de Azevedo abusa de adjetivos, interjeições, exclamações e reticências; “Lembranças de morrer” foi escrito um mês antes da morte do autor, o texto manifesta o pessimismo típico da geração Ultra-romântica. “Morte (hora de delírio)” de Junqueira Freire mostra-se dividido entre os apelos da vida material e carnal, entre o amor a Deus e à mulher; entre o amor platônico e o amor sensual, entre a vida e a morte.

Cântico do calvário” de Fagundes Varela é dedicado a seu filho, Emiliano, que morreu aos três meses de idade. É recheado de metáforas e as figuras de linguagens expressam emoções. “Segredos” de Casimiro de Abreu apresenta forte musicalidade. “Meus oito anos” apresenta característica do mal-do-século; o saudosismo revela a melancolia produzida pela saudade da infância. “O navio negreiro” e “Vozes d’África” são as principais realizações poéticas de Castro Alves. “O navio negreiro” denuncia o sofrimento dos negros transportados da África para o Brasil, para trabalhar como escravos. “Guesa errante” de Joaquim Sousândrade registra um encontro amoroso entre o índio e seu primeiro amor.
O parnasiano “Sonho” de Olavo Bilac contrapõe o presente “hoje”, no qual se leva uma vida “sem glória”, “apagada” e “merencória”, ao passado histórico no qual supostamente a vida era melhor; “Profissão de fé” alheia-se do mundo preocupando-se apenas com sua tarefa de criar beleza através da palavra. Está centrado na comparação lógica entre o trabalho do ourives e o trabalho do poeta. “O Vaso chinês” de Alberto de Oliveira distancia-se dos temas relacionados à realidade dos parnasianos que criavam a “arte pela arte”. “As pombas” de Raimundo Correia estabelece comparação entre a cena descrita e a perda das ilusões dos sonhos, compara o movimento das pombas aos sonhos da adolescência que igualmente voam.
O poema simbolista finaliza um período de formas definidas. “Violões que choram” de Cruz e Sousa é o mais representativo do simbolismo brasileiro, o longo texto tece metáforas e antíteses; “Cavador do Infinito” utiliza-se da filosofia para questionar a razão e o fundamento da existência humana. “Ismália” de Alphonsus de Guimaraens retrata o desejo contraditório de Ismália, construído sob antítese, é interpretado nos seus últimos versos numa concepção cristã de Universo. “Psicologia de um vencido” de Augusto dos Anjos deprecia o eu-lírico e procura sensibilizar o leitor através do feio e do horroroso. “Versos Íntimos” inova com um tom coloquial e cotidiano. Estabelece com um possível interlocutor, advertindo-o da ingratidão e induzindo-o a não aceitar qualquer gesto de solidariedade, aconselha-o a antecipar a agressividade. Expõe uma concepção determinista de sociedade, em que vencem os mais fortes; daí a necessidade de ser fera.
O poema modernista marca o fim da formalidade, dos sonetos medidos e das rimas. “Ode ao burguês” de Mário de Andrade faz referência ao traje do “Arlequim”, metaforiza a diversidade, o imprevisto, oposição a previsibilidade do burguês. “Erro de português” de Osvald de Andrade sintetiza a linguagem da carta escrita por Pero Vaz de Caminha, utiliza-se da expressão formada a partir dos termos coloquiais. “Vou-me embora pra Pasárgada” de Manoel Bandeira representa os anseios do autor de se salvar da doença que contraiu na adolescência. “Ultimo poema” insere dois temas centrais: a valorização da simplicidade e a consciência da morte com o máximo de intensidade vital; “Letra para uma valsa romântica” o eu-poético confessa seu sentimento pela musa Elisa e idealiza a mulher como se estivesse num pedestal. “Reis magos” de Cassiano Ricardo traz à luz uma visão metafórica da formação do povo brasileiro, a partir da identidade entre a figura de Cristo e o novo país descoberto.

Filiação” de Murilo Mendes o eu-poético declara-se católico e aceita a concepção de mundo em que Deus é o Criador. “Essa negra fulô” de Jorge de Lima apresenta característica narrativa com gradações em dois momentos, que preparam para o clímax. O eu-poético faz um jogo lingüístico com as formas dos pronomes; “Poema do Cristão” aponta na religião a solução para uma realidade injusta, conturbada e excessivamente materialista. “Inscrição na areia” de Cecília Meireles trata do pouco valor que o poeta atribui ao seu próprio sentimento, não se preocupa apenas com o significado da mensagem, mas, sobretudo com a construção da mesma; “Feitiçaria” utiliza-se da impessoalidade do verbo e a inexistência do sujeito como recurso lingüístico para dar a idéia de um mundo parado, em que as pessoas poderiam ter vidas, mas não têm. “No meio do caminho” de Carlos Drummond de Andrade é considerado o poema mais representativo do modernismo brasileiro, provocou escândalo à época, o verso “tinha uma pedra no meio do caminho” emprega o verbo ter como impessoal, papel que não lhe é comum no padrão culto da língua, o que seria, “havia uma pedra no meio do caminho”; “A hora do cangaço” emprega a dualidade do eu-lírico para o envolver na eternidade das coisas que em um determinado momento, deixam de parecer eternas; “José” toma consciência do tenso momento histórico e produz a indagação filosófica sobre o sentido da vida, e, indaga com José sem sobrenome, sem origem definida, que se perdeu tudo.

Confidência do itabirano” em tom afetuoso reinterpreta o passado vivido na terra natal; “Amar” procura capturar a essência desse sentimento, o texto revela antagonismos entre o definitivo e o passageiro, o prazer e a dor. O “Soneto da felicidade” de Vinícius de Morais desdobra-se em propostas de comportamentos, todas em função do seu amor e dar explicações por que se dispõe a ser fiel, tem como característica o ritmo e a sonoridade; “Soneto do amor total” constrói-se em duas facetas: o amor espiritual e amor físico e não vê limites entre os dois amores, confessa amor independente de alteração do mundo exterior; “Soneto da separação” o eu-lírico vive um conflito enfatizado pela antítese.
“Morte e vida Severina” de João Cabral de Melo Neto é um poema épico da vida do retirante nordestino. Os personagens trocam paralelos com a paisagem da terra sofrida do sertão nordestino. A trajetória do Severino que foge da seca, passa pelos latifúndios canavieiros e acaba nos barracos miseráveis da cidade litorânea; “Lua nova” remete ao tempo que o poeta transferiu-se, num mesmo prédio, de um apartamento de fundos para outro cuja frente dava para a Baía de Guanabara. O fato em si seria irrelevante para a poesia, não fossem as imagens que o poeta criou. “Pequena crônica policial” de Mário Quintana é composta no gênero narrativo, mas numa expressão poética peculiar ao seu estilo; “Poema de circunstâncias” é estruturado em torno da personificação da figura dos olhos, o eu-lírico confessa que, do lugar onde se acha ainda resta a possibilidade de observar as coisas.
A produção poética brasileira ultrapassa os quatrocentos anos. Desde a publicação da malfadada Prosopopéia de Bento Teixeira em 1601, até os moderníssimos “Mãe”, de J. G. de Araújo Jorge; “O Alto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, “Apelo” de Eno Theodoro Wanke, que mereceu 160 versões para 95 idiomas e a “poesia completa”, de Ledo Ivo. Salva-nos a sobriedade dos poemas ledivanos.

Um comentário:

  1. A história do Brasil é também contada através da arte,cada época tem a sua característica e a característica do seu povo.

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